18 de outubro de 2010

O Golpe de 1964 e os estudantes de Direito da UFSC: reflexos hoje

Hoje, amanheceu sobre as carteiras do Centro de Ciências Jurídicas da UFSC mais um manifesto. Mas não, não se tratava de um manifesto da esquerda cecejotiana, que volta e meia faz isso. Tratava-se do “manifesto à juventude da Universidade de Santa Catarina e ao povo catarinense”, um texto apoiando a dita “revolução” de 1964, escrito e assinado por 120 estudantes da Faculdade de Direito de Santa Catarina, hoje Curso de Direito da UFSC. Certamente, muitos desses 120 signatários acabaram se arrependendo, um pouco mais tarde, de tal apoio assim que começaram a ver as repressões violentas do estado autoritário ou quando tiveram o Centro Acadêmico XI de Fevereiro – o CAXIF – fechado pela Lei Suplicy. No entanto, ainda hoje é comum (muito comum!) ouvir alguns colegas no meu curso bradarem o golpe e a ditadura como algo que era necessário frente à “ameaça comunista” (deveriam estudar um pouco mais de História...) ou, parafraseando o ilustre ministro do STF, Marco Aurélio de Mello, um mal necessário”. E essa não é apenas a opinião de alguns estudantes do CCJ: muitos professores compartilham dessa opinião e acreditam piamente que a ditadura cumpriu com seu dever de extirpar a ameaça de uma “ditadura” comunista e fazer o país crescer.

O jornalista Luiz Carlos Prates, que sempre perde uma oportunidade de ficar quieto, também está entre as figuras que hoje clamam os tempos de regime militar. O comentarista gaúcho chegou a fazer uma pequena homenagem ao presidente militar João Figueiredo, em comentário veiculado no Jornal do Almoço da RBS, por ocasião dos 30 anos da Novembrada. Chegou a afirmar que a Novembrada foi um movimento de perdedores e que liberdade ele tinha durante a ditadura. Lamentável!

Mas, voltando ao manifesto, o que mais me chama atenção é a sua atemporalidade. Primeiro no que toca ao medo do comunismo, que, passados mais de 46 anos, ainda permanece latente na nossa faculdade todos os anos em época de eleição para o CAXIF. Outro ponto é a empáfia do estudante de direito, que adora se colocar como o detentor de toda a verdade, acima do bem e do mal, afinal, é ele (e eu também...) que conhece a obscuridade das leis.

Isso tudo me lembra um episódio recente do CCJ: o segundo debate para a eleição do CAXIF deste ano. Do lado esquerdo da mesa estava a Chapa 2 – Até Sempre – da qual eu fazia parte e, ao lado direito, ocupava assento a Chapa 1 – Novos Horizontes. Lá pelas tantas do debate veio à tona o tema passe livre e as recentes manifestações contra a tarifa abusivas em Floripa. A minha Chapa defendeu veementemente que o CAXIF, enquanto entidade política que é, deveria apoiar este tipo de manifestação e, além disso, ajudar a pagar a fiança de estudante preso arbitrariamente pela Polícia Militar e colaborar com os habeas corpus. Nossos amigos da Chapa 1, que não por acaso estavam à direita da mesa, conceberam nossa posição como absurda, afinal, tratava-se de um movimento “violento” e que atentava contra o direito de ir e vir das pessoas quando obstruía ruas da cidade em protesto. Ademais, a direita ainda acredita nos “meios legais” para resolver o problema do transporte público na Capital. Não, eles não estavam presentes na reunião da Câmara de Vereadores em que foi aprovada a concessão de quase 70 anos para as empresas de transporte coletivo.

O que percebemos de 1964 até hoje, 2010, é a mesma postura reacionária do estudante de direito. Algumas coisas mudaram de lá pra cá, o CAXIF, muitas vezes, se traveste de uma postura neutra, escondendo as reais intenções daqueles que compõem sua diretoria ou a quem estes servem. Neutralidade é a palavra de ordem que atualmente vigora no CAXIF: nosso C.A. se nega a tomar posição frente aos problemas da sociedade, pois acredita que estará representando todos ao calar-se diante dos conflitos. Como eles mesmos dizem “é preciso primeiro cuidar da casa, pra depois pensar no mundo”, ilusão ridícula!

Há algo de muito tênue que envolve a posição dos 120 estudantes de 1964 com a postura omissa do atual CAXIF. Isso passa pela postura reacionária dos nossos colegas que louram os tempos de ditadura, escondidos atrás de pseudônimos covardes, ou que se colocam contra o povo enquanto sujeito ativo de transformação do Direito. Talvez possa passar despercebido aos olhos de muitos, mas, certamente, há algo de errado.

2 comentários:

Matheus Felipe de Castro disse...

Rodrigo: fiquei muito preocupado quando vi esses panfletos em sala de aula hoje pela manhã. Campanha anti-Dilma daqueles que não tem hombridade suficiente para assumir suas posições políticas publicamente.

Seu colega disse...

"Nossos amigos da Chapa 1, que não por acaso estavam à direita da mesa"

Lembrando, meu caro, que Direita e Esquerda são sentidos dependendo do lado em que se está. E não por acaso te digo isso: O seu lado, amigo, me parece ser sempre o conveniente.